Assim como acontece com vários termos que passaram por uma evolução ou atualização tanto na língua portuguesa quanto em outros idiomas, o mesmo aconteceu até o atual “pessoa com deficiência”.
De acordo com Romeu Kazumi Sassaki, consultor de inclusão social, educação inclusiva e inclusão laboral, jamais houve ou haverá uma única expressão correta, válida definitivamente em todos os tempos e locais. Elas condizem com os valores vigentes no período em que são utilizadas.
Com a crescente valorização da diversidade, do ser humano e da busca pela equidade, vários termos que usávamos tranquilamente há até pouco tempo não soam nada bem hoje em dia, pois revelam preconceitos e ferem pessoas.
É o caso de palavras como “deficiente”, “inválidos”, “excepcionais” e “defeituosos” que já foram usadas ao se referir a alguém com deficiência. 😲
Outros termos surgiram ao longo do tempo “para tentar amenizar” o impacto negativo que as essas palavras causavam nas pessoas. Foi quando se começou a usar “portador ou portadora de deficiência” e “pessoa com necessidade especial”.
Gustavo Torniero, jornalista e ativista na área de inclusão e acessibilidade, explica por que esses termos não devem mais ser usados. “Eu não deixo minha deficiência em casa para descansar ou jogo fora quando ela me incomoda. Ela faz parte de mim e de quem eu sou”, diz ele. Ou seja, ele não “porta” uma deficiência, no caso cegueira, como se fosse uma bolsa ou algo do tipo.
Sobre “necessidades especiais”, ele diz que tem sim. Com muito bom humor, Gustavo diz que tem necessidade de ser amado e querido; de ter dinheiro no banco para pagar as contas e satisfazer seus desejos capitalistas, entre outras. Mas nenhuma delas tem relação com sua deficiência visual.
Na verdade, o termo “pessoa com necessidade especial” pode ser usado a qualquer uma que precise de algum apoio específico e que não necessariamente tenha relação com deficiência.
Por exemplo: uma mulher grávida pode precisar de uma cadeira especial e de um apoio para os pés em seus últimos meses de gestação. Uma pessoa idosa pode precisar de uma barra de segurança. Um funcionário com artrite pode precisar de suporte específico em sua estação de trabalho. E assim por diante.
Rodrigo Mendes, fundador do Instituto Rodrigo Mendes e especialista em educação inclusiva, escreveu uma vez em um de seus artigos o seguinte:
“Para que avancemos na construção de uma sociedade inclusiva, importa muito o cuidado com as palavras que usamos para nos referirmos ao outro."
Respondendo, então, a pergunta do título deste artigo, “pessoa com deficiência” é o termo adequado para usarmos hoje em dia. Desde 2006, ele foi incorporado pela Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência.
Você pode ser mais específico ou específica dizendo, por exemplo, pessoa com deficiência visual, pessoa com surdez, pessoa com mobilidade reduzida, pessoa usuária de cadeira de rodas e assim por diante. Observe que a palavra “pessoa” sempre vem em primeiro lugar porque ela é mais importante que a deficiência.
Existe também a abreviação de “pessoa com deficiência” que é PcD. Ela é bastante utilizada e aceita. Mas sempre que você puder, prefira usar o termo por extenso como mais uma forma de valorizar o lado humano, uma vez que a sigla nos passa uma percepção mais burocrática, impessoal e fria. Dessa forma, contribuímos indiretamente para redução de estigmas antigos que marcam a história de pessoas com algum tipo de deficiência. 😉
Se você quiser ler mais a respeito da evolução dessa terminologia, deixo a seguir três links bem bacanas e informativos:
🔸Artigo do Rodrigo Mendes no UOL: https://bit.ly/2SbIjim
🔹 Artigo do Gustavo Torniero no Yahoo: https://bit.ly/32uM6zZ
🔸 Artigo sobre história e evolução dessa terminologia no Diversa: https://bit.ly/3HRsGFt
Conte aqui pra mim o que você acha disso tudo e se tem algo a complementar sobre esse tema. 🙂
Descrição da imagem que ilustra este artigo: arte com foto de um jovem negro que olha com expressão duvidosa para seu laptop. Ele está em um ambiente parecido com uma lanchonete com mesas, cadeiras, bancos e um balcão. Próximo à sua cabeça, há uma forma gráfica representando um balão de pensamento com as palavras “deficiente? PcD? PNE?”.