O gênero informativo é o pilar da função jornalística. Está alinhada ao compromisso de informar o acontecimento, a ocorrência e o fato com o máximo de isenção, transparência e imparcialidade possível – entendendo toda a subjetividade que esse conceito pode conter. Vem conhecer os principais gêneros textuais desta categoria informativa e descobrir as estratégias que podem impulsionar sua produção de conteúdo.
Vamos começar pelo gênero textual que se destaca no gênero jornalístico informativo: a notícia.
Notícia
O conceito de notícia é o primeiro a ser destacado, com mérito, sua definição básica é informação, fonte de conhecimento, o relato resumido de um acontecimento.
O jornalista Willian Bonner descreve o objetivo profissional do Jornal Nacional, que espelha muito bem o propósito jornalístico da notícia:
“Mostrar aquilo que de mais importante aconteceu no Brasil e no mundo com clareza, correção, isenção e pluralidade” - e os critérios de importância envolvem elementos primários como abrangência, gravidade das implicações, caráter histórico, peso do contexto, importância do todo. E ainda critérios secundários: complexidade e tempo” (Bonner, 2009)
“A notícia é fruto de condicionantes pessoais, sociais, ideológicas, culturais e históricas, do meio físico em que é produzida e dos dispositivos tecnológicos que afetam a sua produção”. (SOUZA, Jorge Pedro, 2002)
Sua variedade temática é ampla, está inserida em todas as editorias e é base de conteúdo para todos os tipos de veículos jornalístico.
Lide ou Lead
A marca característica do gênero notícia é a construção do primeiro parágrafo de sua redação, conhecida no vocabulário jornalístico como lide (ou lead, do original e inglês). Nele o jornalista condensa as os elementos informativos principais sobre o acontecimento: O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?
A estrutura de redação da notícia tem outras peculiaridades.
Pirâmide Invertida
O formato é conhecido como pirâmide invertida. Onde a base larga da pirâmide está voltada para cima, contemplando o Lide, o nível intermediário agrega as informações secundária em nível de relevância e seu final apenas amenidades sem representatividade de hierarquia noticiosa.
Geralmente a notícia é marcada pela sua brevidade, sua objetividade. Assim, requer o máximo de clareza na escolha das palavras. Isso também por seu um meio de transmissão de informação para uma massa heterogênea de pessoas, que precisam ter ciência daquele fato do modo mais simples possível.
Outras dicas valiosas: Desde escolha dos verbos no seu infinitivo, ao cuidado com adjetivação não conveniente ao compromisso com a imparcialidade, a construção das frases na ordem direta [sujeito + predicado (verbo + objeto)], a explicação sobre siglas e a tendência a se evitar termos estrangeiros e técnicos...
Tudo isso compões esse propósito de levar ao público a notícia do modo mais transparente possível.
As “chamadas” são recursos bem comuns no jornalismo. Elas representam aqueles textos de resumo curto a respeito das informações que a matéria trará sobre a ocorrência a ser noticiada. Valem como síntese geral do conteúdo e estratégia de atração, onde se explora o impacto e relevância do fato.
Popular no jornal impresso, estão as manchetes, aquele título principal estampado na primeira página de um jornal. E sua construção, muitas vezes, é escolhida pelo editor e, igualmente, são pensados para atrair o leitor para a matéria.
Elementos característicos como título, subtítulo (linha-fina), legenda, entre outros recursos, estão presentes nos diversos gêneros – cada qual com seu objetivo e relevância.
Saiba mais sobre Notícias: Jornalismo: conceitos de notícia, pauta e apuração
Nota
Nota é uma notícia suscinta. Um comentário, apontamento informativo ou esclarecimento breve.
O Manual de Redação da Folha de S. Paulo traz uma frase simples e direta para definir Nota e sugere que se agregue o entendimento através do conceito de Registro:
“Nota é uma notícia suscinta. Um comentário, apontamento informativo ou esclarecimento breve. Alguns fatos merecem ser publicados no jornal, mas não demandam maior investigação ou investimento de reportagem. O registro pode ser feito de forma rápida no interior de um texto ou como uma nota, notícia curta". (Folha de S.Paulo, 2021)
Reportagem
Reportagem é a notícia em profundidade.
É o levantamento e coleta de informações para elaboração de matéria jornalística executado pelo repórter.
O artigo de jornal, revista, internet, rádio, televisão e outros veículos de comunicação resultante da edição dessas informações. Enfim, reportagem é o conjunto de informações sobre determinado assunto divulgadas nessas mídias.
- O jornalista José Marques Mello define reportagem como um relato ampliado de algum caso que repercutiu no organismo social.
- Ricardo Noblat define como relato circunstanciado e o professor João de Deus Corrêa entende como “relato jornalístico temático, focal, envolvente e de interesse atual, que aprofunda a investigação sobre fatos e seus agentes”. (Noblat apud Pena, 2005)
O estudo sobre as características da reportagem é imenso. E vou restringir o debate em duas perspectivas:
- A notícia tende a ser uma informação direta do fato. “A Terra é redonda!”; “O homem pisou na Lua!”. Já a reportagem, sendo um artigo aprofundado, traria elementos mais subjetivos que tenderiam a escapar a imparcialidade do jornalista, mesmo tendo caráter informativo.
- A estrutura da reportagem agrega outros gêneros em si para a sua composição, como: a entrevista (também vista com gênero informativo); elementos do gênero ilustrativo (visual), como ilustrações, gráficos etc.
“Existe um gênero que contém em seu texto −ou pode conter−, todos e cada um dos demais gêneros. É informativo, mas também opinativo. Pode tratar da atualidade, ainda que também permita a inclusão de algum texto de criação. Muitos autores o consideram um híbrido entre os escritos informativos e os interpretativos, mas realmente se trata da fusão de todos os gêneros jornalísticos. É a reportagem”. (Yanes, 2004, apud Gonçalves, Elizabeth et al.)
Uma alternativa para buscar diferenciar essa multiplicidade de fatores foi subcategorizar a reportagem em novos gêneros. Para esse artigo, que revisar uma grande quantidade de outros gêneros jornalísticos gerais, vamos nos ater a visão global mais aceita de reportagem.
Concluindo essa perspectiva, mesmo a reportagem sendo “uma mistura de gêneros que constrói um novo gênero”, como descreveu a autora, a ênfase da reportagem é informativa, não se perde o seu propósito de informar.
Por outro lado, possui toda a potencialidade atrativa dos recursos linguísticos e demais recursos literários. A reportagem não mais precisa se ater ao formato de pirâmide invertida da redação da notícia.
E, nesta liberdade, duas outras estruturas de redação surgem: a forma literária (pirâmide normal) e o modelo misto, conforme descreve o jornalista e professor Mário L. Erbolato. E dele a seguinte definição:
“Na Forma Literária monta-se esse esquema: detalhes da introdução; fatos de crescente importância; fatos culminantes e desenlace. No Sistema Misto: fatos culminantes (entrada); narração da ordem cronológica”. (Erbolato, 2004)
Reportagens, entre outros gêneros textuais, criam estruturas para se adequar e se valer das potencialidades da internet. É o caso do modelo que ficou conhecido como pirâmide deitada.
Nesse formato de texto para o digital a informação é desdobrada em quatro níveis crescentes: iniciando no primeiro parágrafo trazendo uma base noticiosa que prioriza apenas algumas das respostas do Lide tradicional: O quê, Quando, Quem e Onde. Este seria o nível da unidade base.
Na sequência estariam o nível de Explicação, respondendo as demais perguntas-chaves (Por Quê e ao Como). Seguindo para a contextualização e informações complementares, onde se agrega novos recursos informacionais, como foto, vídeo, som, infografia etc.
Até culminar na base larga. Esse nível é de exploração. O jornalista traz conteúdos atrelados àquela notícia. Links, fontes de referência, assuntos correlacionados, páginas temáticas, indicação de podcast, entre outras infinitas possibilidades exclusivas da internet.
Enfim, as possibilidades de desenvolvimento da redação são inúmeras, podendo ser encontradas nos tradicionais formatos: descritiva, narrativo; expositivo e dissertativo.
Entrevista
Entrevista é a ação de uma conversação, uma conferência mantida com alguém para obter informações sobre suas ações, ideias, projetos, testemunho etc. No nosso cenário, jornalista é o entrevistador e o entrevistado é aquele que será a fonte daquelas respostas.
O relato desse encontro, ou seja, o resultado dessa conversa quando publicado nos veículos de comunicação também é entendido como entrevista.
Bem verdade que a entrevista faz parte do processo de apuração da notícia na rotina de qualquer jornalista. É entrevista das fontes, das testemunhas e tal. A entrevista aconteceu como meio de captação da informação. Isso não significa que todo o texto terá sua estrutura elaborada no formato de entrevista. Além domais, há casos em que se resguarda o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional. Sendo esse um direito constitucional.
Retomando o propósito, a entrevista pode ser transcrita de maneira indireta. Onde o jornalista reescreve as informações e depoimentos. Ou ainda de maneira direta, bem conhecida como “entrevista pingue pongue”. Na qual há pergunta é apresentada de forma explícita e a resposta fiel é apresentada na sequência – na íntegra ou trechos mais relevantes da fala.
A chave para uma boa entrevista por parte do entrevistador é a elaboração de um roteiro prévio. Um resumo de informações mais interessantes e pertinentes sobre aquela pessoa e sobre os temas que serão tratados. A própria pauta dará um norte e tenha em mente o objetivo daquele encontro.
As perguntas precisam ser específicas, diretas para não permitir brechas para respostas evasivas ou um entendimento dúbio. Tenha atenção a essas situações, a contradições nas respostas e retorne a pergunta de um novo modo. Inclusive, pergunte a razão das objeções da pessoa entrevistada em responder determinadas questões.
Lembre-se que a entrevista pode ser tanto como uma celebridade divulgando seu novo filme, um ambientalista contando seu invento para favorecer a reciclagem, pessoas interessadas em falar daquele assunto. Mas podem ser políticos envolvidos em esquema de corrupção, uma proeminência da sociedade que foi flagrado em algum tipo de situação comprometedora, dono de um renomado estabelecimento oferecendo comida vencida a creches. Certamente tenderão a se desviar do assunto.
A entrevista pode ser gravada com um gravador (digital ou analógico), filmada ou apenas nas anotações manuais.
Seja o mais fiel possível na transcrição das respostas. Lembre-se do foco informativo, da fidelidade da informação. Lapide apenas o supérfluo, como repetições, redundâncias. Na compilação de temas tome cuidado para não ferir o contexto.
É direito do entrevistado, quando for o caso, exigir retificação (correção) das declarações. O compromisso é com o interesse público e com a verdade.
Caso na entrevista a pessoa fale algo que destoe das normas gramaticais padrão, mas que vale ser levado na íntegra do texto, ou ainda uma expressão popular ou até algo em que seja dito como depoimento bem específico, que possa vir causar estranheza no leitor, identifique no texto como foi dito e coloque ao lado a seguinte expressão: (Sic.) – significando “exatamente dessa forma”.
Antes de terminar, trago aqui uma nota.
Preparei um total de 6 artigos sobre Gêneros Jornalísticos aqui para a Comunidade Marketing de Gentileza. Este aqui é o número 02. O primeiro foi um panorama geral sobre as diversas categorias e destacando a proposta de inspirar uma escrita mais criativa e autêntica. Clica aqui para ver.
Agora se ficar na curiosidade e quiser saber mais sobre o assunto, tem um mega artigo lá no meu LinkedIn: Gêneros Jornalísticos @Bianca-Piquet
Ah! Mega de bem grandão! Está bem bacana, repleto de conteúdo relevante sobre o assunto. Vai lá prestigiar!
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