Uma vida que merece ser vivida e partilhada, uma vida boa, nos coloca frente a frente com muitas escolhas em diferentes momentos de nosso percurso. Uns acreditam que o destino determina nossas vidas e que não temos escolhas. Será?
Escolher é classificar, optar, selecionar e significa que renuncio a alguma coisa em favor de outra.
Escolher pressupõe o exercício responsável da liberdade e da autorresponsabilidade que é a responsabilidade própria por nossas ações, atos e comportamentos.
Como nascem as nossas escolhas
O psicólogo suíço, Jean Piaget (1896-1980) mundialmente conhecido por sua teoria do desenvolvimento psicológico infantil, foi a princípio um biólogo e filósofo estudioso da nossa “máquina de pensar”, mas foi também pesquisador da moralidade, mais precisamente do nascimento da moralidade na criança.
Piaget pode nos ajudar a entender como aprendemos a fazer escolhas.
Podemos dizer que o psicólogo suíço nos brindou com uma teoria sobre o sentido da vida ao pesquisar sobre o nascimento da moral, publicado nas obras Estudos Sociológicos, de 1978, e O juízo moral na criança, de 1994.
Nessas obras, o autor nos traz respostas às perguntas disparadoras estudadas pela Filosofia há séculos.
Como agir? O que é certo e o que é errado? Meu comportamento afeta os demais?
Da moral heterônoma para autônoma ou do individual para o social
Sabemos hoje que a moral nasce heterônoma, de fora pra dentro, a criança bem pequena é guiada pelo respeito e temor ao adulto e segue normas externas e as obedece mesmo sem entendê-las. Numa fase posterior do desenvolvimento infantil, nasce a moral autônoma, as normas são internalizadas e seu sentido coletivo e relevância social são compreendidos. Se você já observou o crescimento psicológico de uma criança deve ter percebido tais mudanças sutis e encantadoras!
Para o professor de Psicologia da USP e mestre dos mestres da teoria piagetiana no Brasil, Yves De La Taille, na moral autônoma “o sentimento de obrigatoriedade é uma espécie de interiorização de limites anteriormente colocados por forças exteriores ao sujeito”, ou seja, a criança se desenvolve moralmente quando interioriza os valores sociais e as regras que antes eram externas a ela.
Veja que interessante: pensar de forma autônoma não é pensar de forma individual, mas sim com base no respeito, sentimento construído nas relações em que predominam a cooperação e a reciprocidade.
Os afetos e as nossas escolhas
Piaget se deteve em aspectos cognitivos e os novos estudos sobre a moralidade privilegiam aspectos afetivos das escolhas que influenciam na decisão sobre nosso modo de agir.
A questão da Filosofia, portanto, passa a ser da Psicologia e os afetos presentes nas escolhas ganha destaque, ou seja, nossa atitude ética está impregnada por nossa “máquina de sentir”.
A afetividade ganha destaque na compreensão de nossas escolhas e faz nascer a busca pelo sentido da vida.
Por que os indivíduos agem desta ou daquela forma? Qual a relação entre saber e querer nas ações que envolvem escolhas?
La Taille argumenta que uma vida boa é uma vida com sentido, e uma vida que faça sentido deve, necessariamente, contemplar a ‘expansão de si próprio’ que se traduz pela busca e manutenção de representações de si com valor positivo.
A expansão de si é a ampliação de nossa capacidade de sermos autênticos e coerentes com nossos valores e buscarmos a autorrealização.
Autorrealização é o grau máximo de satisfação com quem somos e o que fazemos.
Esta trajetória na direção da expansão de si mesmo também depende de nossa capacidade de escolher!
O dilema entre destino e escolhas para Monja Coen, Cortella, Karnal e Clóvis Barros Filho
Monja Coen, Leandro Karnal, Mario Sérgio Cortella e Clóvis de Barros Filho se reuniram recentemente no programa online Café Filosófico e trataram do tema do falso dilema entre destino e escolhas.
Os autores debateram como podemos lidar com o aleatório da vida ou o destino na busca da felicidade para o bem viver, bem pensar, bem sentir e bem agir.
Buscar o sentido da vida significa nos tornarmos melhores observadores de nós mesmos, como Monja Coen e os zen budistas ensinam, é preciso despertar para a vida.
Durante o programa citado, Monja Coen fez perguntas disparadoras que nos fazem refletir:
-Você está acordado? Percebe a realidade como ela é, está presente no aqui agora ou lamentando o que não fez no passado e ansioso pelo futuro? É livre?
Nem inferno, nem paraíso disseram Karnal, Cortella e Clóvis de Barros Filho sobre a busca da felicidade.
Para os autores a felicidade tem um componente que nos escapa porque não tenho o controle de todos os acontecimentos da vida e menos ainda das pessoas à minha volta.
Onde está a felicidade nossa de cada dia?
Meu quinhão de felicidade está em reconhecer e potencializar aquilo que está ao meu alcance e me faz bem e me afastar do que me entristece e me faz mal.
Cortella nos ensina que temos talentos e que não explorá-los é banalizar quem somos, é desprezar este presente genuíno que recebemos da vida.
Para Karnal, importa o sentido que atribuo ao que me acontece e não o que me acontece.
Eu entendo que as escolhas que fazemos todos os dias determinam quem nós somos pra nós mesmos e para os outros.