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Acessibilidade digital: por que você deveria se preocupar com isso?

Acessibilidade digital: por que você deveria se preocupar com isso?
Suzeli Damaceno
mar. 1 - 13 min de leitura
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Mesmo que você ainda não tenha familiaridade com o tema da acessibilidade digital, certamente deve ter ouvido algo a respeito com a atual polêmica em torno da nova rede social Clubhouse.

O fato de ela ser totalmente baseada em áudio já exclui automaticamente a participação de pessoas surdas, mesmo que elas tenham um celular ou tablet IOS. Mas ela também falha em outros quesitos básicos de acessibilidade e exclui ou dificulta bastante a participação de pessoas com outras características.

Mas a ideia aqui não é falar sobre a Clubhouse, mas aproveitar o gancho que ela nos deu para debatermos sobre o que é acessibilidade digital e respondermos a pergunta “por que nós devemos nos preocupar com isso?”.

Eu dividi a resposta em 11 etapas. Vem comigo!

Gif animado de mulher jovem. Ela pisca com um dos olhos, sorri, levanta sua mão direita, aponta com o dedo indicador e sai pela sua esquerda.  Descrição da imagem: Gif animado de mulher jovem. Ela pisca com um dos olhos, sorri, levanta sua mão direita, aponta com o dedo indicador e sai pela sua esquerda.  

Porque é bom para pessoas surdas

Há mais de 10 milhões de brasileiros e brasileiras com algum grau de surdez, segundo o Censo de 2010 do IBGE. No mundo são mais de 500 milhões de pessoas com deficiência auditiva e esse número deve chegar a pelo menos 1 bilhão em 2050 de acordo com a Organização Mundial de Saúde.

A Federação Mundial dos Surdos (WFD) estima que 80% dessas pessoas têm baixa escolaridade, o que significa que elas têm grande dificuldade para ler, escrever e compreender a língua oral de seu país. Assim, essa população é dependente da língua de sinais para se comunicar e se informar.

Um site ou aplicativo acessível para elas é aquele que tem:

  • Vídeos com legenda e tradução em língua de sinais, que no Brasil é a Libras.
  • Transcrição de conteúdo em áudio, como podcast.
  • Textos escritos com estrutura simples e palavras conhecidas.
  • Tradução automática em Libras (por meio do VLibras ou Hand Talk, por exemplo).
  • Canal de atendimento rápido na língua oral e na de sinais.

Porque é bom para pessoas cegas e com baixa visão

A Organização Mundial de Saúde diz que há no mundo cerca de 250 milhões de cidadãos e cidadãs com cegueira e baixa visão. Ela estima também que a cada 5 segundos alguém perde a visão em algum canto do planeta. O Censo de 2010 mapeou cerca de 6,5 milhões de pessoas com essas características aqui no Brasil.

Eu tenho miopia, astigmatismo e presbiopia e não me encaixo nestas estatísticas. Mas também sou beneficiada com vários recursos de acessibilidade em ambientes digitais pensados para atender a essa população como:

  • Zoom de tela com responsividade, ou seja, conforme a gente aperta as teclas “Ctrl” e “+” o conteúdo se expande e se ajusta na tela sem prejudicar a navegação.
  • Alto contraste em textos, fundos, imagens, botões etc.
  • Descrição de imagens.
  • Botões e campos de formulário bem rotulados.
  • Navegação por teclado.
  • Idioma da página declarado para que os softwares de leitura de tela se ajustem adequadamente.
  • Links bem descritos e de atalho.

Porque é bom para pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida

Aqui estamos nos referindo especialmente àquelas com tetraplegia, com ausência ou deficiência em membros superiores, e com mobilidade reduzida por diversos motivos. São aquelas pessoas que navegam pelo teclado com auxílio de uma paleta de boca, que recorrem aos assistentes de voz, que usam apenas uma das mãos, que sofrem de artrite nos dedos e assim por diante.

Um site ou aplicativo concebidos para facilitar a navegação delas é aquele que tem basicamente:

  • Navegação por teclado com foco visível.
  • Botões com área grande para clique.
  • Atividades sem limite de tempo para ser concluída.

Porque é bom para pessoas com deficiência intelectual

A Organização Mundial da Saúde diz também que cerca de 1% a 3% da população global tem algum tipo de deficiência intelectual. Além disso, há uma estimativa de que uma em cada 51 pessoas têm autismo no mundo. Estima-se que no Brasil são duas milhões.

Talita Pagani, especialista em acessibilidade digital com foco nesta área, explica que o que chamamos de “deficiência cognitiva, neuronal ou de aprendizagem” na verdade não é deficiência. São condições, síndromes ou transtornos relacionados ao desenvolvimento da memória, atenção, linguagem, comunicação, letramento, entre outras funções cognitivas e de neurodesenvolvimento.

Um canal digital que segue as diretrizes de acessibilidade para esse público é aquele que:

  • Tem parágrafos e frases curtas.
  • Usa linguagem simples.
  • Tem texto alinhado à esquerda.
  • Tem consistência na organização das páginas (segue um padrão claro).
  • É previsível (sem pop-ups que surgem de repente e causam susto ou desconforto, por exemplo).
  • Não tem imagens piscantes e nem cronômetro ativado.

Porque é bom para pessoas com deficiência situacional

As boas práticas de acessibilidade digital também beneficiam quem está com algum impedimento temporário de acionar o áudio de um vídeo ou de usar o mouse do seu computador.

Quer mais exemplos? Vamos lá!

  • Quem está com uma tendinite e não consegue digitar.
  • Quem está tratando uma conjuntivite e quer ou precisa continuar estudando.
  • Quem está segurando um bebê no colo e precisa pesquisar algo em seu celular usando apenas uma de suas mãos.

São as chamadas deficiências situacionais ou temporárias.

Essa pessoa pode se beneficiar com qualquer um dos recursos de acessibilidade que citei anteriormente dependendo de sua condição e restrição naquele momento.

Porque é bom para pessoas idosas

No Brasil há mais de 30 milhões de pessoas idosas de acordo com o IBGE. Elas acabam tendo algumas disfunções ao longo dos anos que são inerentes ao próprio processo de envelhecimento. A habilidade motora começa se comprometer, assim como a capacidade visual e auditiva. Os problemas de memória, concentração e percepção também começam a se agravar.

Mais uma vez, aqueles recursos de acessibilidade que listei nos tópicos anteriores vão ser úteis também a esse público.

Porque é bom para pessoas com baixo letramento

Elas podem ter dificuldade ou simplesmente não conseguirem ler nem escrever. Dados do IBGE mostram que há no Brasil pelo menos 11 milhões de pessoas com mais de 15 anos analfabetas. No mundo esse número é de 750 milhões.

Mas elas podem ter acesso a todo universo de informações que há na web com o apoio da tecnologia. Só que quem desenvolve sites e aplicativos precisa ter sempre em mente e seguir as diretrizes de acessibilidade digital para facilitar também a vida dessas pessoas.

Esse vídeo a seguir nos dá uma amostra do impacto que a transformação do conteúdo textual em áudio provoca na vida dessa população. O filme foi produzido pela equipe da Audima, empresa que disponibiliza um plugin que converte texto em áudio. Dê uma olhada na área de “novidades” do site do Movimento Web para Todos e clique para ouvir a notícia se quiser conhecer como essa ferramenta funciona na prática.

 

 

O bom desse tipo de recurso é que ele é muito útil também a pessoas disléxicas. Aliás, um dos grandes motivadores que fizeram a Paula Pedroza a criar o Audima foi justamente sua dificuldade de estudar por conta de sua dislexia.

As opções em áudio também agradam quem quer ouvir o texto enquanto faz outra coisa, ou quem tem ou está com a visão comprometida, mas não ao ponto de necessitar de leitores de tela.

Mas eu repito: é necessário que o texto esteja escrito em linguagem simples, com frases curtas e na ordem direta para que o software leia bem o conteúdo e a pessoa ouvinte consiga compreendê-lo.

Porque é bom para pessoas que estão aprendendo a navegar pela web

A foto que ilustra este artigo resume bem o que quero dizer neste tópico. Quando um projeto digital é concebido de acordo com os princípios do desenho universal, ou seja, para ser utilizado por todas as pessoas, uma pessoa idosa e uma criança poderão iniciar suas aventuras pela web da mesma maneira.

Lembre-se também das comunidades que começam a receber sinal de internet, de quem acabou de adquirir seu primeiro computador e assim por diante.

Porque é bom para todas as pessoas

Como você viu, sites e aplicativos acessíveis são realmente bons para todo mundo e não apenas às pessoas com deficiência como muita gente acha. Uma escada ou esteira rolante, rampas de acesso e portas com abertura automática são exemplos de coisas do mundo físico pensadas para serem boas para cadeirantes, muletantes, gente empurrando carrinho de bebê ou malas, ciclistas etc.

O mesmo pensamento vale para a web. Ajudamos pessoas com deficiência física e quem apenas quer mais velocidade na escrita quando damos a opção de preenchimento automático de palavras. Beneficiamos pessoas com sensibilidade visual e quem precisa poupar a bateria de seu celular, por exemplo, quando damos a opção de mudar a tela para o modo escuro.

Ao transcrever um podcast permitimos que pessoas cegas ouçam o conteúdo de maneira muito mais rápida com seus leitores de tela. Quem tem surdez poderá ler o conteúdo ou recorrer ao tradutor automático de Libras. Essa prática ajuda também pessoas como eu que querem dar uma olhada geral no texto para decidir se vai valer ou não a pena investir 30 minutos ou uma hora ouvindo aquele áudio.

Tudo isso é acessibilidade!

Porque é bom para seu negócio

Quer mais um bom motivo para investir em acessibilidade? Um site acessível é mais intuitivo e de fácil interação, carrega mais rápido e ainda é tem melhor ranqueamento nas buscas orgânicas.

É interessante você considerar também que só no Brasil são mais de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência e que podem ter muitas dificuldades ou simplesmente não conseguirem navegar pelo seu site e nem comprar seu produto. Elas têm um poder de compra de R$ 22 bilhões anuais, segundo estimativa de 2017 feita pelo Grupo Cipa Fiera Milano, responsável pela Reatech que é a maior feira do setor de reabilitação, inclusão e acessibilidade na América Latina.

Considere também que menos de 1% dos mais de 14 milhões de sites ativos no Brasil estão acessíveis, segundo estudo divulgado em 2020 pelo Movimento Web para Todos e BigDataCorp. Ou seja, encare isso também como uma excelente oportunidade de diferenciação de mercado e de ampliação de seu público consumidor.

Porque é lei

E se mesmo depois de tudo isso você ainda não se convenceu de que acessibilidade vale a pena, darei um último argumento que pode prejudicar diretamente seu bolso. Está em vigor desde janeiro de 2016 a Lei Brasileira de Inclusão (LBI 13.146).

O artigo 63 trata especificamente da obrigatoriedade de acessibilidade digital em todos sites e aplicativos mantidos por empresas com sede ou representação comercial no Brasil ou por órgãos de governo.

Assim, você não tem mais a opção de querer ou não deixar seu canal acessível, a não ser que opte por correr os riscos de punição. O tipo de pena que você sofrerá ficará a cargo do juiz ou da juíza que estiver cuidando do seu caso, já que não há ainda uma regulamentação clara dessa lei.

Não temos no Brasil dados públicos sobre isso. Mas só para você saber, nos Estados Unidos houve um aumento de 177% em ações judiciais relacionadas à falta de acessibilidade na web entre os anos de 2017 e 2018.

Os brasileiros e brasileiras com deficiência estão cada vez mais cientes de seus direitos e estão se empoderando para lutarem por eles. Há novos movimentos surgindo e grupos se organizando. E para isso, as redes sociais são suas grandes aliadas. Até a Clubhouse, que nasceu sem acessibilidade, contribuiu sem querer para que essa pauta fosse reaquecida.

 

E aí? Consegui convencer você a se preocupar com acessibilidade digital?

Conte-me aqui nos comentários se quer saber mais algo sobre esse tema. 😉

 


Descrição da imagem que ilustra esse artigo: Foto de uma mulher idosa ao lado de um menino que aparenta ter sete anos. Eles se olham sentados em um banco rústico de madeira e palha em uma área aberta com muita vegetação. O menino tem um laptop em seu colo. Perto deles há uma cesta de vime, um gato cinza e alguns tecidos coloridos pendurados em uma estrutura de madeira. Foto de Sasin Tipchai por Pixabay.


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Suzeli Damaceno

Especialista e consultora em comunicação acessível, também coordeno o Movimento Web para Todos, Suzeli Damaceno - Consultoria | Cursos | Treinamentos

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